(...) Arendt, que Nielson cita neste seu importante trabalho de reflexão, que o leitor tem a oportunidade de ter nas mãos, assinalava que, sem o preconceito nós seríamos obrigados a rever nossas ideias todos os dias, precisaríamos, assim, do preconceito, simplesmente porque não disporíamos nem do tempo nem da energia necessárias para submeter ao pensamento o conjunto de nossas experiências possíveis: o preconceito nos ajudaria a não ter de recomeçar do zero todos os dias! O problema não está em submeter nossas experiências ao crivo contínuo do pensar, mas, sim, no fato de que este não-pensar tem consequências sobre os Outros, consequências que levam, não rara vezes, à sua eliminação (inclusive física). No seu estudo sobre o antissemitismo, Arendt mostrou as etapas que levaram a esta eliminação e isto, no interior da mais culta sociedade europeia, que desde o século XIX já tinha resolvido seu problema de analfabetismo das massas, a Alemanha! (...) Flávio Brayner